Guerra de sensórios


















A despeito da polêmica do secretário da Cultura Roberto Alvim, a que suscita o embate entre arte pura e arte degenerada, gostaríamos de nos vangloriar de termos antevisto tal excrecência do ethos comum no conto Mal do Século (2009), incluído no ebook O Irradiador e Outros Contos. Um trecho:

A maneira de fazer política do Partido era considerada por muitos analistas estrangeiros como criptofascista, devido ao patrocínio de manifestações culturais imperativas categóricas que não passavam de declaradas demonstrações de força bruta e falta de compromisso com o essencial ("A pobreza é problema do Estado? Então o Estado não sou Eu" – frase ouvida em off durante uma entrevista). O povo, sempre mobilizado pelo Partido para promover um espírito cívico distorcido, eventualmente era acuado a participar de vários eventos prontificados, ou como queria o poder central, "Eventos-Verdade". Neste momento estava em curso um de natureza propagandista: uma parada folclórica em que milhares de crianças órfãs impingiriam a comunidade internacional da UNESCO a reconhecer as "conquistas na área de aderência étnica" e a "cultura tradicionalista aplicada" do governo central brasílico, cujo foro, o mundo todo sabia, era ocupado por príncipes esclarecidos e padrinhos com indisposição gástrica. A fiel juventude do Partido se vestiria com uniformes de cores verde oliva e azul turquesa (sem o amarelo), as cores da bandeira nacional que, ao longo de sua história, fora modificada exatamente sessenta e duas vezes (na vigésima sétima, o amarelo, que antes representava o subsolo rico em jazidas de ouro, passou a simbolizar cachos de bananas e outras frutas tropicais). A direção do Partido cunhou o evento (na verdade, uma arregimentação compulsória em massa; uma indução ao sono coletivo; um envenenamento psíquico) de Carnaval Unionista.

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